Pergunta da revisão
Quando o leite materno não está disponível, a alimentação de bebés prematuros ou de baixo peso ao nascimento com fórmulas em vez de leite humano doado afeta a digestão, o crescimento e o risco de problemas intestinais graves?
Contexto
Para os bebés prematuros, a fórmula artificial é frequentemente mais difícil de digerir do que o leite humano, e existem preocupações de que a fórmula possa aumentar o risco de complicações intestinais graves. Se os bebés prematuros forem alimentados com leite humano doado (quando o leite materno da mãe é insuficiente ou não está disponível) em vez de fórmula artificial, isso pode reduzir o risco de ocorrência dessas complicações. O leite humano doado, no entanto, é mais caro do que muitas fórmulas e pode não conter quantidades suficientes de nutrientes essenciais para garantir o crescimento ideal de bebés prematuros ou com baixo peso ao nascimento. Dadas estas preocupações, revimos toda a evidência disponível de ensaios clínicos que compararam fórmula versus leite humano doado para alimentar bebés prematuros ou com baixo peso ao nascimento.
Características dos estudos
Na pesquisa realizada até junho de 2017, encontrámos 11 estudos completos (incluindo mais de 1800 bebés). A maioria dos estudos, particularmente aqueles realizados mais recentemente, utilizaram métodos confiáveis.
Resultados principais
A análise combinada dos dados desses ensaios mostra que a alimentação com fórmula aumenta as taxas de crescimento durante o internamento, mas está associada a um risco maior de desenvolver uma doença intestinal grave chamada enterocolite necrotizante. Não há evidência de um efeito na sobrevivência ou no crescimento e desenvolvimento a longo prazo.
Conclusões
A evidência atualmente disponível sugere que alimentar bebés prematuros com fórmula artificial (em vez de leite humano doado, quando o leite materno não está disponível) se associa a taxas mais rápidas de crescimento, mas quase duplica o risco de desenvolver enterocolite necrotizante. Além disso, ensaios maiores podem fornecer evidência mais robusta e mais precisa para ajudar os médicos e as famílias a fazer escolhas informadas sobre este assunto. Atualmente, cinco desses ensaios (incluindo mais de 1.200 bebés) estão em curso internacionalmente, e pretendemos incluir os dados desses estudos nesta revisão quando estiverem disponíveis.
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Quando leite materno suficiente não está disponível, fontes alternativas de nutrição enteral para bebês prematuros ou com baixo peso nascer são leite materno doado ou fórmula artificial. Leite materno doado pode reter alguns dos benefícios não-nutritivos do leite materno para bebês prematuros ou com baixo peso ao nascer. No entanto, a alimentação com fórmula artificial pode suportar o fornecimento mais consistente dos níveis ideais de nutrientes. Incertezas existem sobre o balanço de riscos e benefícios da alimentação com fórmula versus o leite materno doado para bebês prematuros ou com baixo peso ao nascer.
Objetivos
Determinar o efeito da alimentação com fórmula com leite materno doado no crescimento e desenvolvimento de bebês prematuros ou com baixo peso ao nascer.
Métodos de busca
Buscamos na Cochrane Central Register of Controlled Trials (CENTRAL 2014, Edição 3), MEDLINE (1966 a Março de 2014), EMBASE (1980 a Março de 2014), CINAHL (1982 a Março de 2014), anais de congressos e revisões prévias.
Critério de seleção
Ensaios clínicos controlados randomizados ou quasi-randomizados comparando alimentação com fórmula versus leite materno doado para bebês prematuros ou com baixo peso ao nascer.
Coleta dos dados e análises
Nós extraímos os dados utilizando métodos convencionais do Cochrane Neonatal Group, com avaliação separada da qualidade dos estudos e extração de dados por dois revisores.
Principais resultados
Nove ensaios clínicos, nos quais 1070 bebês participaram, preencheram os critérios de inclusão. Quatro ensaios clínicos compararam fórmula padrão para bebês a termo versus leite materno doado e cinco compraram fórmula para prematuros enriquecida com nutrientes versus leite materno doado. Somente os dois ensaios clínicos mais recentes utilizaram leite materno doado enriquecido com nutrientes. Os ensaios clínicos contém várias deficiências de qualidade metodológica, especificamente a incerteza sobre a adequação dos métodos de alocação de ocultação em três ensaios clínicos e a falta de cegamento na maioria dos ensaios.
Lactentes alimentados com fórmulas tiveram maiores taxas hospitalares de aumento no peso [diferença média (DM): 2,58 (intervalo de confiança de 95%: 1,98 a 3,71) g/kg/dia], comprimento [DM: 1,93 (IC 95%: 1,23 a 2,62) mm/semana] e perímetro cefálico [DM: 1,59 (IC 95%: 0,95 a 2,24) mm/semana]. Nós não encontramos evidência de efeito nas taxas de crescimento pós-alta ou no neurodesenvolvimento. A alimentação por fórmula aumentou o risco de enterocolite necrosante: razão de riscos típica 2,77 (IC 95%: 1,40 a 5,46); diferença de riscos 0,04 (IC 95%: 0,02 a 0,07).
Conclusão dos autores
Em bebês prematuros e com baixo peso ao nascer, alimentação com fórmula comparada com leite materno doado resulta em uma taxa maior no crescimento a curto prazo mas também em maior risco de desenvolvimento de enterocolite necrosante. Dados limitados na comparação da alimentação com fórmula versus leite materno doado enriquecido com nutrientes estão disponíveis. Isto limita a aplicabilidade dos achados desta revisão, já que a fortificação com nutrientes do leite materno é agora uma prática comum no cuidado neonatal. Futuros ensaios clínicos podem comparar o crescimento, o desenvolvimento e os resultados adversos em crianças que recebem fórmula láctea versus o leite materno doado fortificado com nutrientes dado como um suplemento ao leite materno ou como uma única dieta.
Traduzido por: Rute Baeta Baptista. Pediatria Médica; Hospital de Dona Estefânia; Área da Mulher, Criança e Adolescente; Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central. Área Disciplinar Autónoma de Fisiopatologia, Faculdade de Medicina, Universidade de Lisboa, com o apoio da Cochrane Portugal.