Remédios para dor em pessoas com síndrome de Guillain-Barré

Pergunta da revisão

Nosso objetivo foi saber se os remédios usados para aliviar a dor das pessoas com síndrome de Guillain-Barré (SBG) são seguros e efetivos.

Contexto

A SGB é uma doença rara que afeta os nervos e as raízes nervosas que ficam fora do cérebro e da medula espinhal. A doença surge quando o sistema imune do paciente ataca os nervos. As vezes, a SGB surge devido à uma infecção. Os pacientes com SGB podem ter dores. Muitas vezes, essas dores não são reconhecidas e também podem não ser tratadas de forma adequada.

Características do estudo

Primeiro fizemos uma pesquisa abrangente nas bases de dados médicas procurando estudos que preenchessem nossos critérios de inclusão. Identificamos três estudos envolvendo 277 pacientes com SGB que foram sorteados para receber diferentes tratamentos para dor. Dois estudos compararam um remédio (gabapentina ou carbamazepina) versus uma substância inativa (placebo). O outro estudo comparou um corticoide versus placebo.

Principais resultados e qualidade da evidencia

A gabapentina e a carbamazepina foram melhores do que o placebo na redução da intensidade da dor e esses dois remédios tiveram poucos efeitos colaterais. Um estudo verificou que os pacientes que tomaram gabapentina tiveram menos dor ou sonolência ou precisaram receber menos remédios adicionais para aliviar a dor do que os pacientes que receberam carbamazepina Porém, esses estudos foram pequenos e fizeram o tratamento por um curto período de tempo. Um estudo envolvendo 223 pacientes comparou prednisolona (um corticoide) versus placebo. Os autores relatam que não houve diferença entre os grupos quanto ao número de pessoas que tiveram dor ou no número de pessoas com mais ou menos dor. Esse estudo não avaliou efeitos colaterais.

A revisão concluiu que não existe evidência suficiente para sabermos se o tratamento para dor em pacientes com SGB funciona ou não funciona. Tanto a gabapentina quanto a carbamazepina foram melhores do que o placebo na redução da intensidade da dor e tiveram poucos efeitos colaterais. Porém, esses estudos eram pequenos e a qualidade dessa evidência foi muito baixa. É necessário fazer novos estudos, bem maiores e bem desenhados, para confirmar se o tratamento medicamentoso é seguro e efetivo em pacientes com SGB logo após o inicio dos sintomas. Também é necessário fazer novos estudos de longo prazo sobre o tratamento contra a dor em pacientes com SGB que estão na fase de recuperação da doença. Esses estudos devem avaliar também os efeitos dos tratamentos da dor sobre a qualidade de vida dos pacientes.

Essa revisão foi originalmente publicada em 2013. A busca foi atualizada em 2014 e não encontrou novos estudos. Essa revisão incluiu todos estudos publicados até novembro de 2014.

Conclusão dos autores: 

Não encontramos novos estudos publicados depois da primeira versão desta revisão. O manejo da dor na SGB é essencial e a farmacoterapia é tida como um componente importante no tratamento desses pacientes. Porém, esta revisão não encontrou evidência suficiente para apoiar o uso de qualquer intervenção farmacológica específica para o tratamento da dor em pacientes com SGB. Existe evidência mostrando que a gabapentina e a carbamazepina são mais efetivas do que o placebo para reduzir a intensidade da dor desses pacientes. Porém, essa evidência é limitada e de qualidade muito baixa. É necessário realizar mais ECRs, grandes e bem desenhados, para melhor avaliar a eficácia e segurança de possíveis tratamentos para dor em pacientes com SGB. Além disso, novos estudos devem avaliar intervenções para o alívio da dor de pacientes na fase de convalescênça da SGB.

Leia o resumo na íntegra...
Introdução: 

A dor na Síndrome de Guillain-Barré (SGB) é comum. Porém, muitas vezes esse sintoma não é reconhecido e é tratado de forma inadequada. Nos últimos anos vários ensaios clínicos testaram diversos tratamentos farmacológicos para o alívio da dor de pacientes com SGB. Essa é uma atualização da revisão Cochrane publicada originalmente na Issue 10, 2013.

Objetivos: 

Avaliar a eficácia e a segurança do tratamento farmacológico para o alívio da dor de pacientes com SGB na fase aguda ou no período de convalescênça da doença (três meses ou mais após o início dos sintomas).

Métodos de busca: 

Em 3 de novembro de 2014 fizemos buscas nas seguintes bases de dados: Cochrane Neuromuscular Disease Group Specialized Register, CENTRAL, MEDLINE e EMBASE. Também fizemos buscas nas plataformas de registros de ensaios clínicos ClinicalTrials.gov e World Health Organization (WHO) International Clinical Trials Registry Platform.

Critério de seleção: 

Incluímos ensaios clínicos randomizados controlados (ERCs), e quasi-randomizados, envolvendo pacientes com diagnóstico confirmado de SGB. Os estudos deveriam ter avaliação da dor como um dos seus desfechos primários ou secundários. Também incluímos ECRs do tipo cross over se eles tivessem um período de washout entre as duas fases do estudo.

Coleta dos dados e análises: 

Dois revisores, trabalhando de forma independente, avaliaram os títulos e os resumos das referencias identificadas na busca, selecionaram os estudos para inclusão, extraíram os dados disponíveis, confirmaram a acurácia dos dados e avaliaram o risco de viés de cada estudo.

Principais resultados: 

Incluímos 3 ERCs de curto prazo que randomizaram um total de 277 participantes com SGB na fase aguda. Os estudos incluídos tinham um risco de viés incerto devido à falta de informações. Nenhum dos estudos incluídos avaliou o desfecho primário desta revisão, que é o número de pacientes com redução de pelo menos 50% na intensidade da dor. Um estudo pequeno comparou gabapentina versus placebo por 7 dias. A dor foi avaliada numa escala de 0 (sem dor) a 10 (máximo de dor). O estudo envolveu 18 participantes. O escore médio de dor após 7 dias foi significativamente menor no grupo da gabapentina do que no grupo placebo: diferença média -3,61, IC 95% -4,12 a -3,10, evidência de qualidade muito baixa. Quanto aos efeitos adversos, não houve diferença significativa na incidência de náuseas (risco relativo-RR 0,50, IC 95% 0,05 a 5,04) ou constipação (RR 0,14, IC 95% 0,01 a 2,54). Um segundo estudo, envolvendo 36 pacientes, comparou gabapentina, carbamazepina e placebo, todos administrados por 7 dias. Os pacientes do grupo gabapentina tiveram um escore mediano de dor significativamente menor em todos os dias de tratamento do que os pacientes dos grupos carbamazepina e placebo (P < 0,05). Não houve diferença significativa entre os grupos carbamazepina e placebo nos escores medianos de dor avaliados entre o primeiro e o terceiro dia do estudo. Porém, entre o quarto e o último dia do estudo, os escores medianos de dor foram significativamente menores no grupo da carbamazepina (P < 0,05, evidência de qualidade muito baixa). Não houve efeitos colaterais nos grupos gabapentina ou carbamazepina, a não ser sedação. Um grande ECR (223 pacientes, todos também tratados com imunoglobulina intravenosa) comparou um curso de 5 dias de metilprednisolona versus placebo. Não houve diferença estatisticamente significativa no número de pacientes que desenvolveram dor (RR 0,89, IC 95% 0,68 a 1,16), no número de pacientes com diminuição da dor (RR 0,95, IC 95% 0,63 a 1,42) ou no número de pacientes com aumento da dor (RR 0,85, IC 95% 0,52 a 1,41) (evidência de baixa qualidade). Esse estudo não apresentou dados sobre efeitos colaterais.

Notas de tradução: 

Tradução do Centro Cochrane do Brasil (Mariana M. Pontalti e Maria Regina Torloni). Contato: tradutores@centrocochranedobrasil.org.br

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