Antidepressivos para agitação e psicose em demência

Psicose e agitação ocorrem com frequência em idosos com demência. Medicamentos são frequentemente prescritos para tratar estes sintomas e os antidepressivos são cada vez mais utilizados para estes sintomas. Nós revisamos as evidências para a efetividade e segurança dos antidepressivos para o tratamento de agitação e da psicose em adultos idosos com demência. Nós classificamos os antidepressivos com base em seu mecanismo de ação e incluímos estudos que compararam antidepressivos para o tratamento tanto com placebo como com outros medicamentos frequentemente utilizados para controlar esses sintomas. Um total de nove estudos (incluindo 692 indivíduos) foram identificados, quatro comparando inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS) com placebo; três estudos comparando ISRSs a antipsicóticos típicos; e um estudo comparou o ISRS com antipsicóticos atípicos. Um estudo comparou o antidepressivo trazodona ao placebo, e dois compararam trazodona ao haloperidol. A maioria dos estudos incluídos na revisão era relativamente pequeno e de risco incerto de viés devido a questões metodológicas. Os ISRSs sertralina e citalopram foram associados a uma modesta redução nos sintomas de agitação e psicose quando comparados com placebo em dois estudos. Houveram algumas outras diferenças estatisticamente significantes nas mudanças na agitação ou psicose ou na maioria das medidas de tolerância medicamentosa para ISRSs ou trazodona quando comparados ao placebo ou ao antipsicótico haloperidol. Concluímos que há algumas evidências para apoiar o uso de certos antidepressivos para a agitação e psicose em demência e mais estudos são necessários para determinar a efetividade e segurança dos ISRSs e trazodona no manejo desses sintomas.

Conclusão dos autores: 

Atualmente, existem relativamente poucos estudos de antidepressivos para o tratamento de agitação e psicose na demência. Os ISRS sertralina e citalopram foram associados a uma redução nos sintomas de agitação quando comparados ao placebo em dois estudos. Ambos os ISRSs e trazodona parecem ser razoavelmente bem tolerados quando comparados com o placebo, antipsicóticos típicos e antipsicóticos atípicos. Futuros estudos envolvendo mais indivíduos são necessários para determinar se o ISRS, trazodona, ou outros antidepressivos são tratamentos seguros e efetivos para a agitação e psicose em demência.

Leia o resumo na íntegra...
Introdução: 

Agitação e psicose são comuns em idosos com demência e são de difícil manejo. No momento, pouco é conhecido sobre a segurança e eficácia de medicação antidepressiva quando utilizada para o tratamento desses sintomas.

Objetivos: 

Avaliar a segurança e eficácia dos antidepressivos no tratamento de psicose e agitação em idosos com doença de Alzheimer, demência vascular ou demência mista.

Métodos de busca: 

Nós pesquisamos no Cochrane Dementia and Cognitive Improvement Group’s Specialized Register, o que incuiu o Cochrane Central Register of Controlled Trials(The Cochrane Library 2009, versão 3), MEDLINE (Janeiro de 1950 até Outubro de 2009), EMBASE (1980 até Outubro de 2009), CINAHL (todas as datas - Outubro de 2009 ), PsycINFO (1806 até Outubro de 2009).

Critério de seleção: 

Ensaios clínicos controlados randomizados de antidepressivos (inibidores seletivos da receptação de serotonina (ISRS), antidepressivos tricíclicos, trazodona e outros antidepressivos) comparados a placebo ou a outras medicações (antipsicóticos típicos ou atípicos, anticonvulsivantes, benzodiazepínicos, inibidores da colinesterase, memantina ou outras medicações) para o tratamento da agitação ou psicose em idosos com demência.

Coleta dos dados e análises: 

Dois autores avaliaram independentemente a qualidade dos artigos e extraíram os dados dos estudos. Nós coletamos informações sobre eficácia, medida por escalas neuropsiquiátricas de sintomas de demência, e efeitos adversos. Autores dos estudos foram contatados para informações adicionais.

Principais resultados: 

Nove ensaios clínicos incluindo um total de 692 indivíduos foram incluídos nesta revisão. Cinco estudos compararam ISRS a placebo e dois estudos foram combinados em uma metanálise para o desfecho de mudança no score da escala Cohen-Mansfield Agitation Inventory (CMAI). Houve diferença estatisticamente significante entre os antidepressivos e placebo em relação ás medidas de agitação conforme reportadas em mudança no score total da CMAI (Diferença de Média (DM) -0,89, Intervalo de Confiança (IC) 95%, -1,22 para -0,57), embora os resultados tenham sido fortemente ponderados por um grande estudo. Não houve diferença estatisticamente significante na mudança de sintomas de comportamento de demência por ISRS comparados ao placebo no estudo que reportou mudanças no Inventório Neuropsquiátrico e Patologia Comportamental em escalas de demência. Um estudo comparando citalopram ao placebo encontrou diferença estatisticamente significante em NPS conforme mensurado na Neurobehavioral Rating Scale (NBRS) após controle por severidade do patamar o score NBRS, embora a diferença média não-ajustada não foi estatisticamente significante (DM - 7.70, 95% IC: -16.57 to 1.17). Não houve diferença nos índices de perdas e desistências dos pacientes devido a eventos adversos para o ISRS em comparação com placebo em quatro estudos que reportaram este desfecho (risco relativo (RR), 1,07, IC 95%: 0,55-2,11) ou em relação ao número de desistências dos ensaios clínicos devido a qualquer causa nos três estudos que reportaram este desfecho (RR 0,91, 95% IC, 0,65-1,26). Um estudo comparou o ISRS citalopram ao antipsicótico atípico risperidona e não encontrou nenhuma diferença na pontuação NBRS, pacientes retirados do teste devido a qualquer causa ou devido a eventos adversos, embora as taxas de eventos adversos medidas no escore total UKU de efeitos colaterais tenham sido menores para o citalopram (DM -2,82, 95% IC: -4,94 a -0,70). Três estudos compararam os ISRS aos antipsicóticos típicos. Na metanálise de dois estudos, não houve diferença estatisticamente significante nas mudanças nos escores totais CMAI (DM 4,66, 95% IC: -3.58 a 12.90). Também não houve diferença nos pacientes retirados do estudo devido a qualquer causa ou devido a eventos adversos para os ISRS em comparação aos antipsicóticos típicos. Um estudo de trazodona comparado ao placebo não encontrou qualquer diferença estatisticamente significante na mudança na pontuação total CMAI (DM 5.18, 95% IC, -2,86 para 13,22) ou em retirados do teste devido a qualquer causa (RR 1,06, 95% IC, 0,54-2,09). Dois estudos comparando trazodona e haloperidol também falharam em detectar uma diferença na mudança de escores em CMAI (DM, 3.28, 95% IC, -3.28 a 9.85) ou os ensaios clínicos foram retirados devido a quaisquer razões (RR, 0.79, 95% IC, 0.43 a 1.46).

Notas de tradução: 

Traduzido por: Raíssa Pierri Carvalho, Unidade de Medicina Baseada em Evidências da Unesp, Brasil Contato: portuguese.ebm.unit@gmail.com

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