Encerramento primário (pontos imediatos) versus encerramento tardio (pontos desfasados) ou sem encerramento (sem pontos) nas feridas traumáticas por mordedura de mamíferos

Qual é o objetivo desta revisão?

O objetivo desta revisão era descobrir se as feridas por mordedura de animal cicatrizam melhor quando são fechadas com pontos de imediato (encerramento primário), quando são deixadas abertas para cicatrizar durante um curto período de tempo antes de encerrar (encerramento tardio) ou quando não são dados pontos (sem encerramento). Queríamos descobrir que feridas cicatrizavam mais rapidamente, e se o método de encerramento afetava a probabilidade de infecção da ferida, a aparência da cicatriz, o tempo de hospitalização, e efeitos secundários mais graves como a morte. Procurámos e analisamos todos os estudos relevantes para responder a esta questão (estudos controlados randomizados). Ensaios controlados e randomizados são estudos clínicos nos quais os participantes são escolhidos aleatoriamente para receber diferentes tratamentos. Este tipo de ensaios fornece a evidência científica mais fiável. Encontrámos quatro estudos relevantes.

Mensagens principais

Todos os estudos que encontrámos diziam respeito a mordeduras de cães. Em termos de infecção de feridas, não podemos ter a certeza se é melhor fechar imediatamente as feridas por mordedura de cão, esperar um período antes de as suturar, ou deixar sem pontos. Havia pouca diferença na aparência da cicatriz da mordedura. A maioria da evidência encontrada era de baixa qualidade devido à dimensão dos estudos e aos métodos utilizados.

O que foi estudado nesta revisão?

As feridas por mordedura de mamíferos como cães, gatos e macacos são um problema comum em todo o mundo. Nos países desenvolvidos, muitas destas feridas são causadas por animais domésticos. Em países de subdesenvolvidos, estas mordeduras também podem ser causadas por animais selvagens. Os cães são geralmente responsáveis pela maioria das mordeduras. As feridas por mordedura têm elevado risco de infecção, pela transmissão de micróbios para a ferida a partir da boca do animal. Em países de menor rendimento, estas infecções podem levar a complicações graves e, em alguns casos, à morte.

As primeiras prioridades no tratamento de uma mordedura de animal são parar a hemorragia da ferida, proporcionar alívio da dor, e prevenir a infecção. Isto pode incluir vacinação apropriada contra o tétano e a raiva. Recomenda-se frequentemente que as feridas por mordedura não sejam logo suturadas se houver suspeita de infecção, pois o encerramento de uma ferida infectada pode atrasar a cicatrização e ser potencialmente fatal.

Quais são os principais resultados desta revisão?

Em Julho de 2019, procurámos ensaios controlados randomizados comparando o encerramento primário com o encerramento tardio e com a ausência de encerramento das feridas por mordedura de mamíferos. Encontrámos quatro estudos relevantes. Foram realizados no Reino Unido, Grécia e China. Não foram identificados outros estudos sobre mordeduras de mamíferos. Três dos estudos que incluímos compararam o encerramento primário com suturas (pontos imediatos) com ausência de encerramento das feridas por mordedura de cão. Um estudo comparou o encerramento primário com o encerramento tardio para mordeduras de cão. As pessoas dos estudos foram seguidas, quando referido nos estudos, entre 14 dias e três meses. Globalmente, estavam representados participantes de ambos os sexos e de todos os grupos etários.

Não sabemos se o encerramento primário de feridas por mordedura de cão aumenta a proporção de feridas sem infecção em comparação com o não encerramento (evidência de muito baixa certeza a partir de dois estudos incluindo um total de 782 pessoas) e, em comparação com o encerramento tardio (provas de muito baixa certeza de um estudo com um total de 120 pessoas). Há pouca diferença na aparência de feridas por mordedura de cão quando se compara o encerramento primário com a ausência de encerramento (evidência de certeza moderada a partir de um estudo com um total de 182 participantes). Nenhum dos estudos incluídos reportou a proporção de feridas cicatrizadas, o tempo de cicatrização da ferida, o tempo de hospitalização ou eventos adversos. O número de pessoas nos estudos incluídos foi pequeno, e as pessoas que avaliaram os resultados sabiam qual o tratamento que tinha sido dado. Ambas são razões pelas quais os resultados são incertos.

Quão atualizada está esta revisão?

Procurámos todos os estudos publicados até Junho de 2019.

Notas de tradução: 

Traduzido por: Mariana Morgado, Serviço de Cirurgia Pediátrica, Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, com o apoio da Cochrane Portugal

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