Intervenções destinadas às comunidades para informar e/ou educar sobre a vacinação na primeira infância

Pesquisadores da Colaboração Cochrane conduziram uma revisão do efeito de informar ou educar os membros da comunidade sobre a vacinação infantil. Depois de buscarmos por todos os estudos relevantes, encontramos dois estudos, publicados em 2007 e 2009. Apresentamos a seguir os resultados resumidos desses estudos.

O que são intervenções destinadas às comunidades para vacinar crianças?

A vacinação infantil pode prevenir doenças e mortes, mas muitas crianças não são vacinadas. Existem vários motivos para isso. Uma das razões pode ser a falta de conhecimento das famílias sobre as doenças que as vacinas podem prevenir, como as vacinas funcionam, ou como, onde, e quando vacinar seus filhos. As pessoas também podem ter preocupações (ou podem estar mal informadas) sobre os benefícios e danos de diferentes vacinas.

Oferecer informações ou educar as pessoas para que elas possam tomar decisões informadas sobre a sua saúde é uma parte importante de todos os sistemas de saúde. As informações e a educação sobre vacinas visam aumentar o conhecimento das pessoas sobre as vacinas e as doenças que estas vacinas podem prevenir, e mudar as suas atitudes em relação às mesmas. A educação ou as informações sobre vacinas são geralmente oferecidas aos pais pessoalmente, por exemplo, durante visitas domiciliares ou quando eles levam as crianças a consultas nos ambulatórios. Outra revisão da Cochrane avaliou o impacto deste tipo de informação. Mas esta informação também pode ser oferecida a grupos maiores de pessoas, por exemplo, em reuniões públicas e clubes de mulheres, em programas de televisão ou rádio, ou em cartazes e folhetos. Nesta revisão, analisamos informações ou educação voltadas para comunidades, em vez de pais ou cuidadores individuais.

A revisão encontrou dois estudos. O primeiro estudo foi feito na Índia. Famílias, professores, crianças, e líderes de aldeia foram encorajados a participar de reuniões educativas, onde receberam informações sobre vacinação infantil e puderam fazer perguntas. Cartazes e folhetos também foram distribuídos na comunidade. O segundo estudo foi no Paquistão. Pessoas consideradas confiáveis na comunidade foram convidadas para reuniões onde discutiram as taxas atuais de cobertura vacinal na sua comunidade e os custos e benefícios da vacinação infantil. Foi-lhes também pedido que desenvolvessem planos de ação locais, que partilhassem a informação que lhes tinha sido dada, e que continuassem as discussões com as famílias nas suas comunidades.

O que acontece quando os membros da comunidade são informados ou educados sobre vacinas?

Os estudos mostraram que as informações ou a educação voltadas para a comunidade:

- podem melhorar os conhecimentos sobre vacinas ou doenças evitáveis pela vacinação;

- provavelmente aumentam o número de crianças que são vacinadas (os dois estudos mostraram que há provavelmente um aumento no número de crianças vacinadas);

- podem fazer pouca ou nenhuma diferença no envolvimento das mães na tomada de decisões sobre a vacinação;

- podem mudar as atitudes dos pais de crianças pequenas a favor da vacinação;

A qualidade (certeza) dessas evidências foi baixa ou moderada.

Os estudos não avaliaram se este tipo de informação ou educação aumentou o conhecimento dos participantes sobre os serviços de vacinação disponíveis, ou se aumentou sua confiança na decisão que eles haviam tomado. Os estudos também não avaliaram qual foi o custo desta informação e educação, ou se isso levou a danos não intencionais.

Conclusão dos autores: 

Esta revisão encontrou evidências limitadas de que as intervenções destinadas às comunidades para informar e educar sobre a vacinação na primeira infância podem melhorar as atitudes em relação à vacinação e, provavelmente, aumentar a adesão à vacinação em algumas circunstâncias. Porém, algumas destas intervenções podem exigir muitos recursos quando implementadas em grande escala. São necessárias mais avaliações rigorosas. Estas intervenções podem trazer mais benefícios em áreas ou grupos com baixas taxas de vacinação infantil.

Leia o resumo na íntegra...
Introdução: 

Existem várias estratégias para se comunicar com os pais, cuidadores, e as comunidades a respeito da vacinação infantil, a fim de ajudá-los a tomar decisões informadas e melhorar a adesão à vacinação. Estas estratégias incluem intervenções em que a informação é dirigida a grupos maiores na comunidade, por exemplo, em reuniões públicas, no rádio ou usando folhetos. Esta é uma das duas revisões sobre intervenções de comunicação para vacinação infantil. A outra revisão avaliou intervenções face-a-face para informar ou educar os pais.

Objetivos: 

Avaliar os efeitos de intervenções dirigidas às comunidades para informar e/ou educar as pessoas sobre a vacinação em crianças de até seis anos.

Métodos de busca: 

Fizemos buscas na CENTRAL, MEDLINE, EMBASE e outras cinco bases de dados até julho de 2012. Buscamos por literatura cinzenta nas bases Grey Literature Report e OpenGrey. Também contatamos autores dos estudos incluídos e especialistas na área. Não houve restrições de idioma, data, ou locais.

Critério de seleção: 

Incluímos ensaios clínicos randomizados ou quasi randomizados individuais ou por aglomerados (cluster), estudos de séries temporais interrompidas (STI) e estudos de medidas repetidas, e estudos controlados antes e depois (CAD). Incluímos intervenções dirigidas às comunidades e destinadas a informar e/ou educar sobre a vacinação em crianças de até seis anos, realizadas em qualquer contexto. Definimos intervenções dirigidas às comunidades como aquelas dirigidas a uma área geográfica, e/ou intervenções dirigidas a grupos de pessoas que partilham pelo menos uma característica social ou cultural comum. Os desfechos primários foram: conhecimento dos participantes sobre vacinas ou doenças evitáveis pela vacinação e sobre a disponibilidade de serviços de vacinação; estado de imunização infantil; e efeitos adversos não intencionais. Os desfechos secundários foram: atitudes dos participantes em relação à vacinação; envolvimento na tomada de decisão em relação à vacinação; confiança na decisão tomada; e uso de recursos ou custo da intervenção.

Coleta dos dados e análises: 

Dois autores, trabalhando de forma independente, avaliaram as referências para identificar os estudos elegíveis para inclusão. Extraímos dados e avaliamos o risco de viés de todos os estudos incluídos.

Principais resultados: 

Incluímos dois ensaios clínicos randomizados por conglomerados que compararam intervenções destinadas às comunidades versus práticas habituais de vacinação. Em um estudo realizado na Índia, famílias, professores, crianças e líderes de aldeia foram incentivados a participar de reuniões informativas onde receberam informações sobre vacinação infantil e puderam fazer perguntas. No segundo, realizado no Paquistão, pessoas consideradas confiáveis pela comunidade foram convidadas a participar de reuniões para discutir as taxas de cobertura vacinal em sua comunidade e os custos e benefícios da vacinação infantil. Foi-lhes pedido que desenvolvessem planos de ação locais e que partilhassem as informações que lhes tinham sido dadas e continuassem as discussões nas suas comunidades.

Existe evidência de baixa qualidade que as intervenções destinadas às comunidades para informar e educar sobre a vacinação infantil podem melhorar o conhecimento sobre vacinas ou doenças evitáveis pela vacinação entre os participantes da intervenção (diferença média ajustada de 0,121, intervalo de confiança (IC) de 95% 0,055 a 0,189). Essas intervenções provavelmente aumentam o número de crianças vacinadas. O estudo da Índia indica que a intervenção provavelmente aumentou o número de crianças vacinadas (razão de risco (RR) 1,67, IC 95% 1,21 a 2,31; evidência de qualidade moderada). O estudo do Paquistão indica que a intervenção provavelmente aumenta a vacinação contra sarampo (RR 1,63, IC 95% 1,03 a 2,58) e DPT (difteria, coqueluche, e tétano) (RR 2,17, IC 95% 1,43 a 3,29); evidência de moderada qualidade para ambas. Porém, a intervenção produz pouca ou nenhuma diferença no número de crianças que receberam a vacina da poliomielite (RR 1,01, IC 95% 0,97 a 1,05; evidência de baixa qualidade). Existe também evidência de qualidade baixa que essas intervenções podem mudar a atitude de pais de crianças pequenas a favor da vacinação (diferença média ajustada de 0,054; IC 95% 0,013 a 0,105). Porém, existe evidência de baixa qualidade que essas intervenções podem fazer pouca ou nenhuma diferença no envolvimento das mães na tomada de decisão sobre a vacinação infantil (diferença média ajustada de 0,043; IC 95% -0,009 a 0,097).

Os estudos não avaliaram o conhecimento dos participantes sobre a disponibilidade de serviços de vacinação; a confiança dos participantes na decisão de vacinar; os custos da intervenção; ou quaisquer danos não intencionais decorrentes da intervenção. Não encontramos estudos que comparassem intervenções dirigidas a comunidades para informar e/ou educar versus intervenções dirigidas a pais ou cuidadores individuais. Também não encontramos estudos que comparassem duas intervenções diferentes destinadas a comunidades para informar e/ou educar sobre vacinação infantil.

Notas de tradução: 

Tradução do Cochrane South Africa e Cochrane Africa em parceria com o Cochrane Brazil (Adilson Bauhofer e Maria Regina Torloni). Contato: tradutores@centrocochranedobrasil.org.br

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