O uso de dique de borracha para isolar os dentes da restante boca durante um procedimento dentário melhora o sucesso das restaurações dentárias?

Mensagens chave

Quando o dique de borracha é usado para isolar os dentes em vez de rolos de algodão, as restaurações dentárias têm maior probabilidade de permanecer no lugar e estar em boas condições após seis meses.
São necessários mais estudos nesta área para fortalecer a evidência. Estes estudos deverão utilizar métodos robustos, acompanhar as pessoas para além dos seis meses e investigar efeitos adversos (indesejados) bem como custos.

Por que isolamos os dentes durante o processo de restauração dentária?

Quando os profissionais de saúde oral precisam de restaurar um dente, isolam-no frequentemente do resto da cavidade oral para:

- manter a saliva afastada para evitar que prejudique a união dos materiais;
- reduzir, até certo ponto, os aerossóis produzidos durante o procedimento dentário;
- impedir que materiais, líquidos ou instrumentos usados no processo sejam engolidos ou danifiquem a cavidade oral.

O que usam os profissionais de saúde oral para isolar os dentes?

Um método comum para isolar os dentes do resto da boca é usar rolos de algodão e um tubo semelhante a uma palhinha que aspira a saliva. Esta técnica utiliza equipamento simples e barato, mas requer a substituição frequente dos rolos de algodão humedecidos.

Uma opção alternativa é usar uma folha de borracha fina (lençol ou dique de borracha). Primeiro, o profissional de saúde oral faz um pequeno furo na folha. Em seguida, coloca-a sobre o dente a ser tratado, criando uma barreira à volta dele. A folha pode ser mantida no lugar com vários métodos, como ganchos/grampos colocados no dente ou um pequeno pedaço de borracha encaixado entre os dentes.

O que queríamos descobrir?

Queríamos descobrir se os diques de borracha melhoram o sucesso das restaurações dentárias em comparação com outros métodos de isolamento dentário. Também queríamos saber se os lençóis estão associados a efeitos indesejados (adversos).

O que fizemos?

Procurámos estudos que comparassem o uso de um dique de borracha com outro método de isolamento dentário. Comparámos e resumimos os resultados desses estudos e avaliámos a confiança na evidência, com base em fatores como métodos e tamanho da amostra dos estudos.

O que encontrámos?

Encontrámos seis estudos que envolveram um total de 1342 pessoas (principalmente crianças). Os dentes tinham indicação para colocação de restaurações por várias razões, incluindo lesões de cárie (cavidades nos dentes criadas por bactérias) e perda de tecido duro na base dos dentes. Os estudos compararam o isolamento com dique de borracha com:

- rolos de algodão (cinco estudos); e
- o sistema Isolite (um novo método que combina blocos de plástico, um escudo para a língua e bochecha e um tubo que aspira a saliva e outros conteúdos orais) (um estudo).

Dique de borracha em comparação com rolos de algodão

A evidência sugere que, quando o dique de borracha é usado em vez de rolos de algodão, as restaurações dentárias têm maior probabilidade de permanecer no lugar e estar em boas condições após seis meses (2 estudos). Não há evidência robusta o suficiente para determinar se isto é verdade após seis meses.

Dique de borracha em comparação com o sistema Isolite

A evidência não é robusta o suficiente para determinar se o uso de dique de borracha melhora o sucesso das restaurações dentárias em comparação com o sistema Isolite.

Efeitos colaterais

Nenhum estudo investigou os efeitos colaterais.

Quais são as limitações da evidência?

A evidência é baseada num pequeno número de estudos que foram conduzidos de forma passível a que tenham sido introduzidos erros nos resultados.

Quão atual é esta evidência?

A evidência está atualizada até janeiro de 2021.

Conclusão dos autores: 

Esta revisão encontrou evidência de baixa qualidade de que o uso do dique de borracha em tratamentos diretos de dentisteria restauradora pode levar a uma menor taxa de falha das restaurações em comparação com o uso de rolos de algodão após seis meses. Noutros momentos de avaliação, a evidência apresenta um alto grau de incerteza. São necessários estudos futuros, de alta qualidade que avaliem os efeitos do uso do dique de borracha em diferentes tipos de tratamentos restauradores.

Leia o resumo na íntegra...
Introdução: 

O controlo efetivo da humidade e dos microrganismos é necessário para o sucesso dos procedimentos de dentisteria. O dique de borracha, como método de isolamento, tem sido amplamente utilizado em tratamentos restauradores em medicina dentária. Os efeitos do uso do dique de borracha na longevidade e qualidade das restaurações dentárias ainda requerem base de evidência robusta. Esta revisão compara os efeitos do uso de dique de borracha com outros métodos de isolamento em tratamentos de dentisteria restauradora. Esta é uma atualização da Revisão Cochrane publicada pela primeira vez em 2016.

Objetivos: 

Avaliar os efeitos do isolamento com dique de borracha em comparação com outros tipos de isolamento usados para tratamentos restauradores diretos e indiretos em pacientes de medicina dentária.

Métodos de busca: 

Um perito da Cochrane Oral Health pesquisou nas seguintes bases de dados: Cochrane Oral Health’s Trials Register (pesquisa realizada a 13 de janeiro de 2021), Cochrane Central Register of Controlled Trials (CENTRAL; 2020, Issue 12) na Cochrane Library (pesquisa realizada a 13 de janeiro de 2021), MEDLINE Ovid (de 1946 a 13 de janeiro de 2021), Embase Ovid (de 1980 a 13 de janeiro de 2021), LILACS BIREME Biblioteca Virtual em Saúde (base de dados de Evidência de Ciências da Saúde da América Latina e do Caribe; de 1982 a 13 de janeiro de 2021) e SciELO BIREME Biblioteca Virtual em Saúde (de 1998 a 13 de janeiro de 2021). Também pesquisámos na Chinese BioMedical Literature Database (CBM, em Mandarim) (de 1978 a 13 de janeiro de 2021), na VIP database (em Mandarim) (de 1989 a 13 de janeiro de 2021), e na China National Knowledge Infrastructure (CNKI, em Mandarim) (de 1994 a 13 de janeiro de 2021). O ClinicalTrials.gov, a World Health Organization International Clinical Trials Registry Platform, o OpenGrey, e o Sciencepaper Online (em chinês) foram consultados para encontrar ensaios clínicos a decorrer. Não houve restrições quanto ao idioma ou à data de publicação na pesquisa nas bases de dados eletrónicas.

Critério de seleção: 

Incluímos ensaios clínicos aleatorizados (incluindo ensaios de boca dividida) com duração de pelo menos um mês, que avaliassem os efeitos do uso do dique de borracha em comparação com outros métodos de isolamento alternativos para tratamentos restauradores em medicina dentária.

Coleta dos dados e análises: 

Dois autores da revisão analisaram independentemente os resultados da pesquisa, extraíram os dados e avaliaram o risco de viés dos estudos incluídos. Quaisquer discordâncias foram resolvidas por meio de discussão. Foram rigorosamente seguidas as diretrizes estatísticas da Cochrane e foi avaliada a qualidade da evidência com o instrumento GRADE.

Principais resultados: 

Foram incluídos seis estudos realizados globalmente entre 2010 e 2015, com um total de 1342 participantes (dos quais 233 participantes foram perdidos no acompanhamento). Todos os estudos incluídos apresentavam alto risco de viés.

Cinco estudos compararam o uso do dique de borracha com o isolamento tradicional com rolos de algodão. Um estudo foi excluído da análise devido a inconsistências nos dados apresentados. Dos quatro ensaios restantes, três reportaram taxas de sobrevivência das restaurações com acompanhamento mínimo de seis meses. Os resultados agrupados de dois estudos com 192 participantes indicaram que o uso do isolamento com dique de borracha pode aumentar as taxas de sobrevivência de restaurações diretas em resina composta em lesões cervicais não cariosas (LCNCs) após seis meses (rácio de probabilidades – odds ratio (OR) 2,29, intervalo de confiança (IC) de 95% 1,05 a 4,99; evidência de baixa qualidade). No entanto, o uso do dique de borracha em restaurações em resina composta em LCNCs pode ter pouco ou nenhum efeito nas taxas de sobrevivência das restaurações em comparação com os rolos de algodão após 12 meses (OR 1,38, IC 95% 0,45 a 4,28; 1 estudo, 30 participantes; evidência de muito baixa qualidade) e após 18 meses (OR 1,00, IC 95% 0,45 a 2,25; 1 estudo, 30 participantes; evidência de muito baixa qualidade), mas a evidência é muito incerta. Após 24 meses, o uso do dique de borracha pode diminuir o risco de falha das restaurações em crianças submetidas a técnicas de dentisteria atraumática proximal em molares decíduos, mas a evidência é muito incerta/duvidosa (rácio de risco – hazard ratio (HR) 0,80, IC 95% 0,66 a 0,97; 1 estudo, 559 participantes; evidência de muito baixa qualidade).

Nenhum dos estudos incluídos mencionou efeitos adversos ou reportou o custo direto do tratamento.

Notas de tradução: 

Traduzido por: Carlota Duarte de Mendonça, Bruno Rosa, Joana Faria Marques, João Silveira e António Mata, Centro de Estudos de Medicina Dentária Baseada na Evidência, Faculdade de Medicina Dentária da Universidade de Lisboa. Revisão final: Ricardo Manuel Delgado, Knowledge Translation Team, Cochrane Portugal.

Tools
Information