Intervenção comportamental intensiva precoce (ICIP) para aumentar os comportamentos funcionais e as habilidades em crianças com transtornos do espectro autista (TEA).

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A intervenção comportamental intensiva precoce (ICIP) é um dos tratamentos mais utilizados para crianças com autismo (TEA). O objetivo da nossa revisão foi examinar os estudos que avaliaram a ICIP. Nós encontramos cinco estudos que compararam a ICIP versus tratamentos de educação escolar especial que são geralmente usados para crianças com autismo (tratamento habitual). Apenas um desses cinco estudos sorteou as crianças para o grupo que recebeu a ICIP ou para o grupo que recebeu o tratamento habitual. Esse tipo de sorteio é considerado o método ideal (“padrão ouro”) nesse tipo de pesquisa. Os outros quatro estudos colocaram as crianças em um dos dois grupos (ICIP ou tratamento habitual) de acordo com a preferência dos pais. Examinamos e comparamos os resultados dos cinco estudos. No total, os estudos incluíram 203 crianças, todas com menos de seis anos de idade quando começaram o tratamento. As crianças que receberam a ICIP tiveram um melhor desempenho que as crianças dos outros grupos, nos testes feitos após dois anos de tratamento. Esses testes avaliaram o comportamento adaptativo (comportamentos que aumentam a independência e a habilidade do indivíduo se adaptar a um ambiente), a inteligência, as habilidades sociais, a comunicação, a linguagem, os sintomas de autismo e a qualidade de vida das crianças. A evidência apoia o uso da ICIP para algumas crianças com autismo. Entretanto, a qualidade geral desta evidência é baixa. Isso se deve ao pequeno número de crianças envolvidas nos estudos e ao fato de que apenas um estudo sorteou aleatoriamente as crianças para um dos dois grupos de tratamento.

Conclusão dos autores: 

Existe alguma evidência de que a ICIP é um tratamento comportamental efetivo para algumas crianças com TEA. Porém, a evidência atual é limitada porque, devido à falta de ECR, ela é baseada em dados de estudos não randomizados (ECC). São necessários mais ECR para chegar a conclusões confiáveis sobre os efeitos da ICIP para crianças com TEA.

Leia o resumo na íntegra...
Introdução: 

A prevalência crescente dos transtornos do espectro autista (TEA) ampliou a necessidade de tratamentos baseados em evidências para diminuir o impacto dos sintomas na função dessas crianças. No momento, não existem tratamentos que curem ou intervenções psicofarmacológicas efetivas para o tratamento de todos os sintomas deste problema de saúde. A intervenção comportamental intensiva precoce (ICIP) é um tratamento baseado nos princípios da análise aplicada do comportamento com uma duração de 20 a 40 horas por semana, ao longo de vários anos. A ICIP é um dos tratamentos mais bem estabelecidos para os TEA.

Objetivos: 

Avaliar as evidências sobre a efetividade da ICIP para aumentar os comportamentos funcionais e as habilidades de crianças com TEA.

Métodos de busca: 

Fizemos buscas nas seguintes bases de dados, em 22 de novembro de 2011: CENTRAL (Issue 4, 2011), MEDLINE (desde 1948 até a 2ª semana de novembro de 2011), EMBASE (desde 1980 até a 46ª semana de 2011), PsycINFO (desde 1806 até a 3ª semana de novembro de 2011), CINAHL (desde 1937), ERIC (desde 1966), Sociological Abstracts (desde 1952), Social Science Citation Index (desde 1970), WorldCat, metaRegister of Controlled Trials e no Networked Digital Library of These and Dissertations. Também fizemos buscas nas listas de referências dos estudos publicados.

Critério de seleção: 

Selecionamos ensaios clínicos randomizados (ECR), ensaios clínicos quasi-randomizados, ou ensaios clínicos controlados (ECC) que compararam a ICIP versus nenhum tratamento ou tratamento habitual. Os participantes deveriam ter menos que seis anos de idade no momento do recrutamento e ter sido encaminhados para o tratamento.

Coleta dos dados e análises: 

Dois autores, trabalhando de forma independente, fizeram a seleção e avaliaram o risco de viés de cada estudo incluído. Todos os dados dos desfechos foram apresentados na forma de variáveis contínuas. Portanto, apresentamos as estimativas do tamanho do efeito da intervenção na forma de diferença de média padronizada, com um fator de correção para amostras pequenas. Quando possível, realizamos metanálises usando o modelo de efeito aleatório. Isso significa que presumimos que os estudos individuais poderiam fornecer estimativas diferentes dos efeitos da intervenção.

Principais resultados: 

Incluímos na revisão 5 estudos (1 ECR e 4 ECC), totalizando 203 participantes. O fato de que a revisão se baseia principalmente nos achados dos 4 ECCs limita a base de evidência. Isto deve ser levado em consideração na interpretação dos resultados. Em todos os estudos, o grupo controle recebeu o tratamento habitual. Sintetizamos os resultados dos 4 ECC em metanálises de diferenças de médias padronizadas, usando o modelo de efeito aleatório. Encontramos efeitos positivos a favor do grupo ICIP, para todos os desfechos. Para o desfecho comportamento adaptativo, o tamanho de efeito médio foi g = 0,69 (IC 95% 0,38 a 1,01; P < 0,0001). Para o QI (quociente intelectual), o tamanho de efeito médio foi g = 0,76 (IC 95% 0,40 a 1,11; P < 0,0001). Para os desfechos habilidades de comunicação e linguagem, houve benefícios significativos a favor da ICIP: linguagem expressiva g = 0,50 (IC 95% 0,05 a 0,95; P = 0,03), linguagem receptiva g = 0,57 (IC 95% 0,20 a 0,94; P= 0,03) e habilidades de comunicação diária g = 0,74 (IC 95% 0,30 a 1,18; P = 0,0009). Para socialização, o tamanho médio de efeito foi g = 0,42 (IC 95% 0,11 a 0,73; P = 0,0008), e para habilidades da vida diária, o efeito foi g = 0,55 (IC 95% 0,24 a 0,87; P = 0,0005). Apresentamos também analises descritivas de outros desfechos relacionados com a qualidade de vida e psicopatologia. Entretanto, a inclusão de estudos não randomizados aumenta consideravelmente o risco de viés. A qualidade geral das evidências foi classificada como baixa, segundo o sistema GRADE. Esse sistema avalia a qualidade das evidências das metanálises e é usado para embasar as recomendações para a prática clínica.

Notas de tradução: 

Tradução do Cochrane Brasil. Contato: tradutores@centrocochranedobrasil.org.br