Uso de terapias osmóticas mais antibióticos para meningite bacteriana aguda

Qual foi o objetivo desta revisão?

O objetivo desta Revisão Cochrane foi encontrar e analisar os resultados de estudos que avaliaram o uso de terapias osmóticas dadas por boca ou na veia, para pessoas com meningite bacteriana aguda. Pesquisadores da Cochrane buscaram e analisaram todos os estudos relevantes para responder a esta pergunta. Eles encontraram cinco estudos pertinentes.

Mensagens-chave

O uso do glicerol, um diurético osmótico, provavelmente tem pouco ou nenhum efeito em relação ao risco de morrer (evidência de qualidade moderada), mas pode reduzir sequelas auditivas (evidência de qualidade moderada) ou sequelas neurológicas (evidência de baixa qualidade). A evidência é atualizada até 17 de fevereiro de 2017.

O que foi avaliado nesta revisão?

Nas meningites, o líquido cérebro-espinhal (fluído que envolve o cérebro e medula espinhal) está infectado. Geralmente, a infecção chega através do sangue. Todos os tipos de meningite podem levar o doente à morte ou a ter sequelas graves. Porém, a meningite bacteriana aguda pode levar à morte em pouco tempo, se não for tratada. Até mesmo com antibióticos, nos países desenvolvidos, 10% a 15% das crianças com meningite bacteriana morrem. Essas taxas são muito mais altas nos países em desenvolvimento. A infecção leva o cérebro a ficar inchado (edema), e isto contribui para a morte e para lesão cerebral de longo prazo nos sobreviventes. As terapias osmóticas aumentam a concentração do sangue. Esses remédios fazem isso ao aumentar a pressão osmótica através de uma membrana semi-permeável (como a parede das células ou dos vasos sanguíneos que revestem o cérebro). Isto faz com que a água saia do cérebro e se desloque para o sangue, reduzindo assim a pressão dentro do cérebro. Em teoria, as terapias osmóticas poderiam aumentar as chances de sobrevida, ou então, elas poderiam causar danos aos pacientes.

Quais são os resultados desta revisão?

Incluímos cinco estudos que compararam o uso do glicerol versus um placebo em 1451 pacientes com meningite bacteriana. A administração de corticoides também foi frequente nesses estudos. Porém, isto não pareceu modificar quaisquer dos efeitos do glicerol.

Esta revisão mostrou que o uso do glicerol não trouxe nenhum benefício em relação ao risco de morrer. O uso desse medicamento ofereceu uma pequena proteção em relação aos riscos de surdez e de ter sequelas neurológicas. Não houve nenhum efeito notável em relação ao risco de ter crises epilépticas no seguimento. O glicerol não foi associado com qualquer efeito adverso grave. O número de estudos incluídos foi pequeno e só dois estudos incluíram um número grande de participantes. Os estudos foram feitos em diferentes tipos de locais de atendimento e incluíram adultos ou crianças.

Conclusão dos autores: 

A única terapia osmótica avaliada foi o uso do glicerol. Os dados provenientes dos ensaios clínicos não demonstraram efeitos dessa intervenção sobre o desfecho morte. O uso do glicerol pode reduzir os riscos de sequelas neurológicas e de surdez.

Leia o resumo na íntegra...
Introdução: 

Diariamente crianças e adultos morrem por meningite bacteriana aguda adquirida na comunidade, particularmente nos países de baixa-renda. Os sobreviventes correm o risco de ficar surdos, ter epilepsia e sequelas neurológicas. As terapias osmóticas, ao eliminar fluido extra-vascular, podem diminuir o edema cerebral, e assim reduzir risco de morte e melhorar os desfechos neurológicos.

Esta é a atualização de uma revisão Cochrane publicada originalmente em 2013.

Objetivos: 

Avaliar os efeitos das terapias osmóticas associadas aos antibióticos em adultos e crianças com meningite bacteriana aguda em relação à mortalidade, surdez e sequelas neurológicas.

Métodos de busca: 

Fizemos buscas nas seguintes bases de dados: CENTRAL (2017, volume 1), MEDLINE (de 1950 até 17 de fevereiro de 2017), Embase (de 1974 até 17 de fevereiro de 2017), CINAHL (de1981 até 17 de fevereiro de 2017), LILACS (de 1982 até 17 de fevereiro de 2017) e nas plataformas de registros de ensaios clínicos em andamento (ClinicalTrials.com e WHO ICTRP) (em 21 de fevereiro de 2017). Também procuramos por resumos de congressos e contactamos pesquisadores da área (até 12 de dezembro de 2015).

Critério de seleção: 

Incluímos ensaios clínicos randomizados que avaliaram qualquer tipo de terapia osmótica em adultos ou crianças com meningite bacteriana aguda.

Coleta dos dados e análises: 

Dois autores, trabalhando de forma independente avaliaram os resultados das buscas e selecionaram os estudos para inclusão nesta revisão. Apresentamos os resultados como risco relativo (RR) e intervalos de confiança (IC) de 95%. Agrupamos os resultados dos participantes conforme o uso de corticoides. Avaliamos a qualidade da evidência usando o GRADE.

Principais resultados: 

Incluímos cinco estudos com um total de 1451 participantes. Quatro estudos compararam glicerol versus placebo e um estudo comparou glicerol versus dextrose 50%. Além disso, três estudos avaliaram a dexametasona e um estudo avaliou o paracetamol usando um desenho fatorial. As análises estratificadas mostraram que o uso dos corticoides não levou a nenhuma modificação no efeito. Apresentamos estimativas de efeito agregado.

Comparado com o placebo, o uso do glicerol em pacientes com meningite bacteriana aguda produz pouco ou nenhum efeito sobre o risco de morte (RR 1,08, IC 95% 0,90 a 1,30; 5 estudos, 1272 participantes;evidência de qualidade moderada), mas pode reduzir as sequelas neurológicas (RR 0,73, IC 95% 0,53 a 1,00; 5 estudos, 1270 participantes;evidência de baixa qualidade).

O uso do glicerol parece ter pouco ou nenhum efeito nas crises convulsivas durante o tratamento da meningite (RR 1,08, IC 95% 0,90 a 1,30; 4 estudos, 1090 participantes; evidência de baixa qualidade).

O uso do glicerol pode reduzir o risco de surdez subsequente (RR 0,64, IC 95% 0,44 a 0,93; 5 estudos, 922 participantes;evidência de qualidade baixa à moderada).

O uso do glicerol provavelmente produz pouco ou nenhum efeito sobre o risco de ter sangramento gastrointestinal (RR 0,93,IC 95% 0,39 a 2,19; 3 estudos, 607 participantes; evidência de qualidade moderada). A evidência a respeito de náuseas, vômitos e diarreias é incerta (RR 1,09, IC 95% 0,81 a 1,47; 2 estudos, 851 participantes; evidência de qualidade muito baixa).

Notas de tradução: 

CD008806.pub3. Tradução do Cochrane Brazil (Élide Sbardellotto Mariano da Costa) – contato:tradutores@centrocochranedobrasil.org.br

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