Uma intervenção respiratória para falta de ar devido a insuficiência cardíaca

Introdução

A insuficiência cardíaca é uma das principais causas de internação hospitalar no mundo. As pessoas com insuficiência cardíaca, muitas vezes, sofrem de falta de ar e inchaço nas pernas. Estes sintomas podem se desenvolver durante horas a semanas, ou rapidamente em algumas horas. Esta piora rápida é chamada de edema agudo pulmonar cardiogênico.

Fornecer ar sob pressão (empurrando o ar com força para os pulmões) através de uma máscara facial ou nasal pode tratar a falta de ar. Este tratamento é chamado de ventilação não invasiva. Entretanto, seu uso na insuficiência cardíaca é controverso.

Características dos estudos

Os estudos controlados randomizados (que sorteiam pessoas para receber um tratamento ou outro) comparam tratamentos para descobrir se eles são realmente eficazes. Fizemos buscas por estudos randomizados que compararam a ventilação não-invasiva aos cuidados médicos de rotina em adultos com edema agudo pulmonar cardiogênico. Comparamos estudos que trataram pessoas com ventilação não-invasiva versus cuidados médicos de rotina. Os cuidados médicos de rotina incluem terapias como o fornecimento de oxigênio extra e pílulas de água aos pacientes. As evidências nas quais esta revisão se baseia estão atualizadas até setembro de 2018.

Pergunta da revisão

Procuramos saber se a ventilação não-invasiva em adultos com edema agudo pulmonar cardiogênico reduz as taxas de mortes, a necessidade de um tubo respiratório e os ataques cardíacos.

Resultados principais e certeza (confiança) na evidência

Encontramos 24 estudos, com um total de 2.664 participantes, que compararam a ventilação não-invasiva aos cuidados médicos de rotina. O uso da ventilação não-invasiva pode diminuir as chances de a pessoa morrer no hospital. A certeza (confiança) nos resultados dos estudos que relataram a morte no hospital foi baixa. Isto porque estes estudos foram mal conduzidos e os resultados não foram semelhantes (foram inconsistentes) entre estes estudos. Além disso, a ventilação não-invasiva provavelmente reduz as chances de a pessoa precisar de um tubo de respiração. A certeza nos resultados dos estudos que relataram taxas de tubo respiratório foi moderada, uma vez que estes estudos foram mal conduzidos. A ventilação não-invasiva provavelmente tem pouco ou nenhum efeito na ocorrência de um ataque cardíaco. A certeza nos resultados dos estudos que relataram taxas de ataques cardíacos foi moderada, porque estes estudos mostraram resultados inconsistentes. Não temos certeza se o uso da ventilação não invasiva reduz o tempo de internação hospitalar dos pacientes. A certeza nos resultados dos estudos que relataram o tempo de internação hospitalar foi muito baixa, devido à má condução dos estudos e à inconsistência entre os resultados destes estudos. Finalmente, a ventilação não-invasiva pode fazer pouca ou nenhuma diferença em relação aos eventos adversos (complicações), em comparação com os cuidados médicos de rotina. A certeza nos resultados dos estudos que relataram eventos adversos foi baixa, pois estes estudos foram mal conduzidos e também tiveram resultados inconsistentes.

Conclusão dos autores: 

Nossa revisão fornece suporte para a aplicação clínica de VNIPP em pessoas com EAPC, para melhorar desfechos como mortalidade hospitalar e taxas de intubação. A VNIPP é uma intervenção segura, com taxas de eventos adversos similares às dos cuidados habituais. Mais estudos são necessários para determinar se subgrupos específicos de pessoas com EAPC têm maior benefício com o uso da VNIPP do que com o uso dos cuidados habituais. Pesquisas futuras devem explorar o benefício da VNIPP em pacientes com EAPC e hipercapnia.

Leia o resumo na íntegra...
Introdução: 

A ventilação não invasiva por pressão positiva (VNIPP) tem sido usada para tratar o desconforto respiratório devido ao edema agudo pulmonar cardiogênico (EAPC). Realizamos a atualização de uma revisão sistemática e meta-análise sobre a VNIPP em adultos com EAPC.

Objetivos: 

Avaliar a eficácia e segurança da VNIPP em comparação com os cuidados padrão em adultos com EAPC. O desfecho principal foi a mortalidade hospitalar. Os desfechos secundários importantes foram intubação endotraqueal, intolerância ao tratamento, tempo de internação hospitalar e na unidade de terapia intensiva, taxas de infarto agudo do miocárdio e taxas de eventos adversos.

Métodos de busca: 

Fizemos buscas na CENTRAL (CRS Web, 20 de setembro de 2018), MEDLINE (Ovid, 1946 a 19 de setembro de 2018), Embase (Ovid, 1974 a 19 de setembro de 2018), CINAHL Plus (EBSCO, 1937 a 19 de setembro de 2018), LILACS, WHO ICTRP e Clinicaltrials.gov. Também revisamos as listas de referências dos estudos incluídos para encontrar estudos adicionais. Não houve restrição de idiomas.

Critério de seleção: 

Incluímos ensaios clínicos controlados randomizados (ECRs) cegos ou não cegos em adultos com EAPC. Os participantes tinham que ser designados aleatoriamente para receber VNIPP (binível ou pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP)) adicionalmente aos cuidados médicos habituais ou para receber, comparativamente, apenas os cuidados habituais.

Coleta dos dados e análises: 

Dois autores da revisão, trabalhando de forma independente, rastrearam e selecionaram os artigos para inclusão. Extraímos os dados dos estudos incluídos com um formulário de coleta de dados padronizado. Avaliamos o risco de viés de cada estudo incluído utilizando a ferramenta de risco de viés da Cochrane. Avaliamos a certeza (qualidade) nas evidências para cada desfecho usando as recomendações do GRADE.

Principais resultados: 

Incluímos 24 estudos (com um total de 2.664 adultos - maiores de 18 anos) com problemas respiratórios devido ao EAPC, que não necessitavam de ventilação mecânica invasiva imediata. As pessoas com EAPC deram entrada em um Departamento de Emergência ou foram hospitalizadas, e o tratamento para EAPC foi fornecido no Departamento de Emergência ou em um ambiente de terapia intensiva. Houve um acompanhamento mediano de 13 dias para avaliar a mortalidade hospitalar, um dia para intubação endotraqueal e três dias para infarto agudo do miocárdio. Em comparação com os cuidados padrão, a VNIPP pode reduzir a mortalidade hospitalar (risco relativo (RR) 0,65, intervalo de confiança (IC) 95% 0,51 a 0,82; 2.484 participantes; 21 estudos; I2 = 6%; baixa certeza na evidência), com um número necessário para tratar (NNT) para obter um resultado benéfico adicional de 17, IC 95% 12 a 32. A VNIPP provavelmente reduz as taxas de intubação endotraqueal (RR 0,49, IC 95% 0,38 a 0,62; 2.449 participantes; 20 estudos; I2 = 0%; moderada certeza na evidência); NNT 13, IC 95% 11 a 18. Provavelmente há pouca ou nenhuma diferença na incidência de infarto agudo do miocárdio (IAM) com a VNIPP em comparação com os cuidados médicos habituais em pacientes com EAPC (RR 1,03, IC 95% 0,91 a 1,16; 1.313 participantes; 5 estudos; I2 = 0%; moderada certeza na evidência). Temos dúvidas se o uso da VNI impacta no tempo de internação hospitalar (diferença média (DM) -0,31 dias, IC 95% -1,23 a 0,61; 1.714 participantes; 11 estudos; I2 = 55%; muito baixa certeza na evidência). Os participantes que receberam VNIPP tiveram eventos adversos geralmente similares aos que receberam cuidados habituais. Entretanto, temos baixa certeza (confiança) nessa evidência.

Notas de tradução: 

Tradução do Cochrane Brazil (Ana Carolina P. N. Pinto). Contato: tradutores.cochrane.br@gmail.com

Tools
Information